A imunossenescência é um alvo terapêutico para a fragilidade em idosos
O envelhecimento refere-se aos mecanismos fisiológicos que levam a diminuição progressiva do desempenho funcional e aumento do risco de mortalidade [1]. Atualmente, estima-se que a expectativa de vida possa exceder 80 anos até 2040 em todo mundo [2].
Esse aumento na expectativa de vida também pode estar associado a incidência e prevalência de doenças associadas ao envelhecimento, como doenças cardiovasculares, neurológicas, musculoesqueléticas e oncológicas [3, 4].
Assim, compreender os mecanismos subjacentes envolvidos no envelhecimento e nas doenças relacionadas à idade é essencial para melhorar o manejo de pacientes com fragilidade, uma síndrome geriátrica de alta prevalência [5].
Envelhecimento e imunossenescência
A imunosenescência é definida como alterações relacionadas à idade nas funções imunológicas [6]. Evidências emergentes apoiam a imunossenescência como uma das patogêneses que pode levar ao câncer, distúrbios autoimunes, infecção repetida, doenças relacionadas à inflamação crônica, entre outras.
Assim, o direcionamento de fatores específicos relacionados à idade que contribuem para a imunossenescência podem, potencialmente, retardar o processo de envelhecimento e fornecer tempo para prevenir doenças relacionadas à idade.
Fragilidade: um problema crítico de saúde na população idosa
Conforme a Associação Internacional de Gerontologia e Geriatria, a fragilidade é definida como força reduzida e disfunção fisiológica, resultando em fraqueza elevada, dependência ou morte [7].
Neste estado de fragilidade, ocorre a diminuição das funções fisiológicas de indivíduos mais velhos, aumentando sua vulnerabilidade e diminuindo a capacidade antiestresse [8]. A fragilidade também envolve alterações patológicas e fisiológicas em vários sistemas, tais como sistemas neuroendócrino, musculoesquelético, metabólico e imunológico [9].
O índice de fragilidade é caracterizado por funções físicas, comorbidades, fatores cognitivos e mentais, e pode predizer os riscos de mortalidade, incapacidade, quedas e hospitalização dos idosos [10].
Sarcopenia: síndrome geriátrica
A sarcopenia é a perda generalizada e progressiva de massa muscular e seu mau funcionamento que acomete os idosos, aumentando o risco de quedas e fraturas, e contribuindo para a perda da independência e da qualidade de vida [11].
A capacidade física é o principal critério diagnóstico tanto de fragilidade quanto de sarcopenia. Assim, a saúde do músculo esquelético é o foco de pesquisa de estratégias preventivas e terapêuticas.
Evidências emergentes mostraram que inúmeras doenças ou estados patológicos, como diabetes mellitus, câncer e insuficiência renal com hemodiálise, podem levar à perda de massa muscular. E desta maneira, a coexistência de múltiplas doenças pode contribuir para um risco maior para fragilidade, assim como para a sarcopenia.
Declínio do perfil imunológico de pessoas mais velhas
O declínio da capacidade imunológica pode levar a diversas manifestações clínicas, como menor capacidade antitumoral, infecções repetidas e persistentes e doenças autoimunes. Esse processo relacionado à idade é chamado de imunossenescência [12].
Na imunossenescência há alterações do sistema imunológico adaptativo, com um estado geral de diminuição [13]. Com o envelhecimento, a imunidade inata também sofre uma diminuição da proporção de macrófagos, quimiotaxia, capacidade de apresentação de antígenos e fagocitose, resultando em aumento da suscetibilidade de indivíduos mais velhos [14].
O processo de imunossenescência também resulta em inflamação e acúmulo de fatores pró-inflamatórios. Por outro lado, as células senescentes podem gerar fatores angiogênicos, quimiocinas, citocinas, proteases e fatores de crescimento, também referidos como fenótipo secretor associado a senescência (SASP) [15].
Com o acúmulo das células envelhecidas, o SASP também pode induzir inflamação relacionada à idade. Assim, o envelhecimento inflamatório pode ser causado pela interação de fatores complexos, como SASP e disfunção de células imunes inatas em adultos mais velhos [16].
Em conjunto, a imunossenescência e o envelhecimento inflamatório são considerados a base comum da patogênese de múltiplas doenças geriátricas.
Em um estudo publicado na revista Age (Dordr), os autores investigaram as relações entre marcadores de inflamação sistêmica (proteína C-reativa, interleucinas-1β, -6, -8, -10, -12, inibidor do ativador de plasminogênio, amiloide sérica A, fator de necrose tumoral-α e molécula de adesão-1) e função cognitiva em 873 idosos sem demência com idades entre 70 e 90 anos [17].
Os resultados mostraram que o sistema imunológico em senescência tem um efeito crucial na condução do envelhecimento sistêmico, e foi observado que uma expressão mais alta de interleucina (IL)-6, IL-10, IL-12, IL-1β e fator de necrose tumoral (TNF)-α previa uma baixa função cognitiva quando fatores como idade, sexo, educação e obesidade eram associados [17].
Intervenções para combater a fragilidade e imunossenescência
Como múltiplos fatores contribuem para o desenvolvimento da fragilidade e imunossenescência que ocorrem com o avanço da idade, o conceito de tratamento para idosos utilizando o modelo “uma doença de cada vez” não é mais apropriado na prática clínica geriátrica, e nesta direção os alvos terapêuticos também variam conforme as condições específicas [18].
Por exemplo, um baixo nível de nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD+) está supostamente associado ao mau funcionamento das mitocôndrias e à reprogramação metabólica das células imunes. Desta maneira, o NAD+ pode ser usado como um alvo terapêutico para a imunidade do envelhecimento [19].
Dados promissores demonstraram que a administração de mononucleotídeo de nicotinamida, o precursor do NAD+, em camundongos poderia manter os níveis de NAD+ e a função mitocondrial [19].
Como a imunossenescência pode ter uma certa influência na composição, função e diversidade microbiana humana, intervenções probióticas e dietéticas direcionadas à microbiota também podem combater o envelhecimento natural, aumentando a resistência à oxidação, regulando o metabolismo, suprimindo a inflamação crônica e promovendo a homeostase imunológica.
Além disso, a suplementação de prebiótico/probiótico/simbiótico na dieta pode restaurar a microbiota ativa e prolongar uma vida útil saudável. Assim, existem várias intervenções para facilitar o processo de envelhecimento e reduzir o risco de potenciais incapacidades que podem levar a uma diminuição significativa da qualidade de vida dos idosos.
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Referências:
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