Compostos bioativos: potencial da cavalinha no tratamento e profilaxia da osteoporose
A saúde e a qualidade de vida das mulheres são fortemente afetadas pelas flutuações hormonais. O desequilíbrio hormonal associado à idade e a deficiência de estrogênio estão envolvidos na patogênese de doenças como a obesidade, osteoporose e doenças autoimunes.
Neste contexto, nos últimos anos cresceu muito a procura por produtos biológicos naturais como uma alternativa aos produtos farmacêuticos convencionais para o tratamento e prevenção de diversos distúrbios, principalmente em períodos críticos para a saúde feminina como a perimenopausa e a pós-menopausa.
Osteoporose e compostos bioativos como terapia alternativa
A osteoporose é uma doença óssea sistêmica caracterizada pela redução da massa e deterioração da microarquitetura óssea, levando à fragilidade dos ossos e ao aumento do risco de fraturas [1, 2].
As fraturas por fragilidade associadas à osteoporose constituem um importante problema de saúde em todo o mundo. Os altos custos sociais e individuais da osteoporose e suas complicações permanecem um desafio para os sistemas de saúde, especialmente porque a maioria dos pacientes com osteoporose permanece sem tratamento.
Dentre os fatores causais, o hipogonadismo associado ao declínio hormonal característico da menopausa figura como uma das principais causas que desencadeiam a osteoporose em mulheres. Além disso, estudos indicam que quase 60% das pacientes com alto risco de fraturas osteoporóticas não estão recebendo tratamento adequado [3].
O papel do estrogênio na manutenção da densidade mineral óssea
Evidências científicas consolidadas apontam que a diminuição no nível de estrogênios durante a menopausa gera uma menor densidade mineral óssea, aumentando o risco de fraturas [4, 5].
Esses efeitos protetores dos estrogênios nos ossos podem ser explicados por diversos mecanismos fisiológicos. Os estrogênios, entre outras funções, inibem a reabsorção óssea pela supressão da síntese de citocinas pró-inflamatórias em osteoblastos, principalmente devido à inibição da via de sinalização do fator nuclear kappa B (NFκB) [6].
Outra função importante é a ativação e transcrição de genes importantes mediadas pela ação dos estrogênios para a indução de apoptose em osteoclastos e prevenção da reabsorção óssea. [7,8].
Potencial da planta medicinal cavalinha como alternativa para o tratamento da osteoporose
A osteoporose após a menopausa é caracterizada pela reabsorção óssea que excede a formação do osso. Assim, medicamentos que bloqueiam a reabsorção são uma das opções terapêuticas utilizadas [1].
Estrogênios, moduladores seletivos do receptor de estrogênio, bifosfonatos, ranelato de estrôncio, denosumabe, teriparatida, abaloparatida ou romosozumabe são medicamentos clinicamente usados como terapias eficazes contra a osteoporose. No entanto, seu uso está associado ao risco estabelecido de efeitos colaterais [1].
Nesse ponto, cresce a procura por abordagens alternativas para tratamento da osteoporose. Dentre estes, o uso da Cavalinha (Equisetum arvense) parece ser promissora. A cavalinha é uma planta medicinal muito utilizada para combater retenção de líquidos, principalmente devido aos seus efeitos diuréticos. Também possui efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios, podendo ser utilizada também em casos de infecções urinárias, dentre outros benefícios [9].
Estudos indicam também que essa planta contém uma quantidade significativa de sílica e seu consumo pode levar à absorção e utilização de cálcio e formação de colágeno [9].
Por possuir fatores e compostos como alcalóides, fitoesteróis, taninos, triterpenóides e fenólicos, a cavalinha também pode ser eficaz na prevenção da perda óssea causada pela idade e deficiência de estrogênio. Além disso, Equisetum arvense contém metabólitos secundários, como quercetina, kaempferol, luteolina, apigenina, ácido oleanólico, ácido betulínico e ácido ursólico, todos os quais afetam a atividade anabólica dos osteoblastos [9].
A sílica presente nessa planta favorece a formação óssea e tecido conjuntivo, facilitando a deposição de cálcio e outros minerais, o que diminui o número de células osteoclásticas e estimula a atividade dos osteoblastos [9].
Estudo científico avaliou o impacto da cavalinha na densidade óssea
Em um estudo pré-clínico, pesquisadores avaliaram o impacto da Equisetum arvense na densidade óssea em ratos usando métodos de radiografia [10]. Além dos métodos radiográficos, amostras de sangue também foram coletadas para avaliar a quantidade de níveis de cálcio e fósforo dos animais.
Neste estudo experimental, ratos machos e fêmeas foram divididos aleatoriamente em cinco grupos: (1) grupo controle, (2) grupo cálcio/vitamina D, (3) grupo extrato de Equisetum arvense (60 mg/ kg), (4) grupo extrato de Equisetum arvens (90 mg/kg) e (5) grupo extrato de Equisetum arvense (120 mg/kg) [10]. Em todos os grupos experimentais, o tratamento ocorreu durante 30 dias.
Para análise da densidade óssea esponjosa, foram feitas medições na maxila e mandíbula por meio de radiografia digital, além dos níveis séricos de cálcio, vitamina D e fósforo (medidos no início e após 30 dias).
Como resultados, os autores observaram que não houve diferença significativa entre os níveis séricos de cálcio e fósforo nos cinco grupos antes e após 30 dias [10]. A vitamina D sérica no grupo que recebeu cálcio e vitamina D foi significativamente maior do que nos outros grupos.
Por outro lado, houve aumento da densidade mineral óssea mandibular no grupo que recebeu Equisetum arvense (120 mg/kg), quando comparado ao grupo controle [10]. Esse aumento da espessura dos ossos corticais e esponjosos no grupo que recebeu extrato indica uma possível capacidade de mineralização óssea da planta medicinal [10].
Em humanos, a terapia com extrato titulado de cavalinha e cálcio mostrou um aumento acentuado nos valores densimétricos médios para a vértebra, com recuperação média da massa óssea em torno de 2,3% em mulheres pós-menopausa [11].
É necessário ressaltar que poucos estudos clínicos até o momento avaliaram o potencial da cavalinha no tratamento da osteoporose. Mais pesquisas em humanos são necessárias para chegar a uma conclusão definitiva acerca dos benefícios desta planta medicinal na saúde óssea. No entanto, os resultados até então obtidos são promissores e apontam para mais uma aplicação terapêutica desta planta.
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Referências:
[1] Consensus development conference: Diagnosis, prophylaxis, and treatment of osteoporosis. Am. J. Med. 1993; 94:646–650.
[2]. Bartl R., Bartl C. The Osteoporosis Manual. Springer International Publishing; Cham, Switzerland: 2019. Epidemiology of osteoporotic fractures; pp. 231–232.
[3] Hernlund E., Svedbom A., Ivergård M., Compston J.E., Cooper C., Stenmark J., McCloskey E.V., Jonsson B., Kanis J.A. Osteoporosis in the European Union: Medical management, epidemiology and economic burden. Arch. Osteoporos. 2013; 8:136. doi: 10.1007/s11657-013-0136-1.
[4] Cauley J.A. Estrogen and bone health in men and women. Steroids. 2015; 99:11–15.
[5] Khalid A.B., Krum S.A. Estrogen receptors alpha and beta in bone. Bone. 2016; 87:130–135.
[6] Krum S.A., Chang J., Miranda-Carboni G., Wang C.-Y. Novel functions for NFκB: Inhibition of bone formation. Nat. Rev. Rheumatol. 2010; 6:607–611. doi: 10.1038/nrrheum.2010.133.
[7] Garcia A.J., Tom C., Guemes M., Polanco G., Mayorga M.E., Wend K., Miranda-Carboni G.A., Krum S.A. ERα signaling regulates MMP3 expression to induce FasL cleavage and osteoclast apoptosis. J. Bone Miner. Res. 2013; 28:283–290.
[8] Martin A., Xiong J., Koromila T., Ji J.S., Chang S., Song Y.S., Miller J.L., Han C.-Y., Kostenuik P., Krum S.A., et al. Estrogens antagonize RUNX2-mediated osteoblast-driven osteoclastogenesis through regulating RANKL membrane association. Bone. 2015; 75:96–104.
[9] Badole S, Kotwal S. Equisetum arvense: Ethanopharmacological and Phytochemical review with reference to osteoporosis. Int J Pharmaceut Sci Health Care. 2014; 4:131–41.
[10] Arbabzadegan N, Moghadamnia AA, Kazemi S, Nozari F, Moudi E, Haghanifar S. Effect of equisetum arvense extract on bone mineral density in Wistar rats via digital radiography. Caspian J Intern Med. 2019 Spring;10(2):176-182. doi: 10.22088/cjim.10.2.176. PMID: 31363396; PMCID: PMC6619477.
[11] Corletto F. Female climacteric osteoporosis therapy with titrated horsetail (equisetum arvense) extract plus calcium (osteosil calcium): randomized double blind study. Minerva Ortopedica e Traumatologica 1999 October;50(5):201-8.