Efeitos das amoras sobre a resposta inflamatória e sintomas do climatério
A Morus nigra L., também conhecida como amora preta, pertence ao gênero Morus da família Moraceae. Várias partes da árvore são utilizadas para fins medicinais pela cultura popular, e suas folhas são utilizadas como anti-inflamatório, para minimizar os efeitos da menopausa, tratamento de diabetes e hipertensão, assim como e um agente anticancerígeno [1].
As plantas do gênero Morus contêm muitos componentes funcionais, tendo alto valor comestível e medicinal. Os fitoquímicos bioativos das amoras têm um grande potencial terapêutico, responsáveis por seus efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes.
Essas propriedades protetoras estão relacionadas aos polissacarídeos, carotenóides, rutina, resveratrol, antocianinas, minerais (Se, Fe, Zn, Cr), glutamato e outros compostos fenólicos [1].
No extrato de Morus nigra estudos já demonstraram que a quercetina e o ácido cafeico são os compostos majoritários desta espécie.
Estudos pré-clinicos avaliaram a composição química do extrato da Morus nigra após administração nas doses de 500, 750 e 1000mg/kg por 28 dias em ratos, e o extrato não apresentou efeitos tóxicos significativos quando administrado por via oral. Além disso, apresentou uma ação potencialmente protetora de órgãos e atividade hipocolesterolêmica [2].
Potentes atividades imunomoduladoras das amoras
Num estudo in vitro publicado na revista Food Chem Toxicol., os autores descreveram os efeitos das administrações de Morus alba sobre as secreções de citocinas anti-inflamatórias em culturas de macrófagos e na presença de lipopolissacarídeo (LPS), uma endotoxina bacteriana que provoca uma forte resposta imune [3].
Os níveis de citocinas pró/anti-inflamatórias secretadas por macrófagos eestimulados por LPS cultivados com Morus alba (0, 250, 750 e1250 µg/mL) foram co-plaqueados por 48 h. Os sobrenadantes da cultura celular foram coletados para ensaio de citocinas usando o método ELISA [3].
Os resultados mostraram que a administração de Morus alba diminuiu a secreção de IL-1b e IL-6 pelos macrófagos estimulados por LPS de maneira dose-dependente, sugerindo sua forte ação anti-inflamatória.
Também, a administração de Morus alba aumentou significativamente TNF-a, IL-12 (citocinas pró-inflamatórias) e níveis de IL-10 (citocina anti-inflamatória) pelos macrófagos após estímulo com LPS, de forma dose-dependente.
Entre as citocinas, as secreções máximas das citocinas pró-inflamatórias como IL-1b, IL-6 e TNF-a ocorrem em 12-48 h, período em que começa a inflamação [4].
Em contraste, a IL-10, produzida na fase tardia da inflamação por células efetoras imunes, inibem a síntese de outras citocinas, e foi reconhecida como uma citocina anti-inflamatória [5].
Em conjunto, estes resultados demonstram que os perfis de secreção das citocinas podem refletir a situação das células inflamatórias.
No presente estudo, os autores mostraram que a Morus alba pode proteger as células imunes contra a inflamação induzidas por LPS via modulação das taxas de citocina pró-/anti-inflamatória de uma maneira regulada ao curso do estabelecimento do processo inflamatório.
Os efeitos da Morus nigra L. nos sintomas e na qualidade de vida de mulheres climatéricas
As amoras também contêm vários compostos fenólicos, incluindo flavonóides, flavonas, isoflavonas, isoprenilatos, estilbenos, cumarinas, cromonas e xantonas [6]. Estudos já demonstraram que os níveis totais de flavonóides da Morus nigra são maiores que os de M. alba e M. rubra [7].
O chá preparado a partir das folhas da Morus nigra é amplamente utilizado em vários países, incluindo China, Coréia, Japão e Brasil, como medicamento tradicional para aliviar os sintomas do climatério e principalmente os fogachos.
Como mais opções de tratamento não-hormonal são essenciais para mulheres que não podem ou optam por não usar terapia hormonal (TH), um estudo publicado na revista Foods, avaliou a eficácia do pó da folha de M. nigra no tratamento dos sintomas do climatério e comparou os resultados do tratamento com as de mulheres tratadas com terapia hormonal padrão ou placebo [8].
Este estudo foi realizado entre 62 mulheres climatéricas, divididas em grupos Morus nigra, terapia hormonal e placebo, e receberam 250 mg de pó de folha de Morus nigra, 1 mg de estradiol ou placebo por 60 dias.
Como resultados, os autores observaram que a análise da qualidade de vida mostrou que a capacidade funcional, vitalidade, saúde mental e aspecto social melhoraram após o tratamento no grupo Morus nigra. O grupo terapia hormonal apresentou melhora na limitação emocional, e o grupo placebo apresentou melhor capacidade funcional após o tratamento.
Os autores concluíram que os sintomas climatéricos e a qualidade de vida melhoraram após a administração de 250 mg de pó de folha de Morus nigra por 60 dias, semelhante aos efeitos da terapia hormonal.
No entanto, o estudo tem algumas limitações, e estas estão associadas a: ausência de fase I ou II, necessidade de mais estudos para confirmar a dose e os resultados, a falta dos dados sobre a duração da menopausa que podem ter introduzido um viés na eficácia do tratamento, a diferença na média de idade entre os três grupos, e o fato do acompanhamento de 60 dias do estudo ter sido menor que o acompanhamento usual de 12 semanas usado na maioria dos estudos.
Em suma, o tratamento com o extrato das folhas e polpa da amora apresenta efeitos benéficos na modulação de parâmetros inflamatórios, assim como melhora os sintomas climatéricos e a qualidade de vida das mulheres nesta fase. Também, as amoras podem ser mais uma opção para pacientes que apresentam contra-indicações ao uso da terapia hormonal padrão.
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Referências:
[1] Nomura T, Fukai T, Hano Y, Yoshizawa S, Suganuma M, Fujiki H. Chemistry and anti-tumor promoting activity of Morus flavonoids. Prog Clin Biol Res. 1988; 280:267-81. PMID: 3140248.
[2] Figueredo KC, Guex CG, Reginato FZ, Haas da Silva AR, Cassanego GB, Lhamas CL, Boligon AA, Lopes GHH, de Freitas Bauermann L. Safety assessment of Morus nigra L. leaves: Acute and subacute oral toxicity studies in Wistar rats. J Ethnopharmacol. 2018 Oct 5; 224:290-296. doi: 10.1016/j.jep.2018.05.013. Epub 2018 May 14. PMID: 29772355.
[3] Liu CJ, Lin JY. Anti-inflammatory and anti-apoptotic effects of strawberry and mulberry fruit polysaccharides on lipopolysaccharide-stimulated macrophages through modulating pro-/anti-inflammatory cytokines secretion and Bcl-2/Bak protein ratio. Food Chem Toxicol. 2012 Sep;50(9):3032-9. doi: 10.1016/j.fct.2012.06.016. Epub 2012 Jun 18. PMID: 22721979.
[4] Loram, L.C., Themistocleous, A.C., Fick, L.G., Kamerman, P.R. The time course of inflammatory cytokine secretion in a rat model of postoperative pain does not coincide with the onset of mechanical hyperalgesia. Can. J. Physiol. Pharmacol. 2007 85, 613–620.
[5] Lin, J.Y., Li, C.Y. Proteinaceous constituents of red cabbage juice increase IL- 10, but decrease TNF-a secretions using LPS-stimulated mouse splenocytes. J. Food. Drug Anal. 2010 18, 15–23.
[6] Mirzabe A.H., Hajiahmad A. Filter press optimisation for black mulberry juice extraction. Biosyst. Eng. 2022; 215:80–103. doi: 10.1016/j.biosystemseng.2022.01.001.
[7] Ma G., Chai X., Hou G., Zhao F., Meng Q. Phytochemistry, bioactivities and future prospects of mulberry leaves: A review. Food Chem. 2022; 372:131335. doi: 10.1016/j.foodchem.2021.131335.
[8] Hao J, Gao Y, Xue J, Yang Y, Yin J, Wu T, Zhang M. Phytochemicals, Pharmacological Effects and Molecular Mechanisms of Mulberry. Foods. 2022 Apr 18;11(8):1170. doi: 10.3390/foods11081170. PMID: 35454757; PMCID: PMC9028580.
Link:
Tratamento com o extrato das folhas:
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