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Potencial terapêutico do cranberry em infecções do trato urinário recorrentes

Potencial terapêutico do cranberry em infecções do trato urinário recorrentes

As infecções do trato urinário estão atualmente entre as infecções bacterianas mais prevalentes, representando um grande risco à saúde. Como tal, representam um desafio clínico na prática comunitária e um fardo financeiro significativo para os sistemas de saúde [1].

Estima-se que essas infecções afetem mais de 50% das mulheres em algum momento de suas vidas [2], sendo que 25 a 30% dessas apresentam pelo menos uma recorrência após a primeira infecção [3].

As infecções do trato urinário em mulheres geralmente começam como infecções vaginais que podem subir para vias urinárias superiores, como a uretra e a bexiga. Já as infecções recorrentes podem ser definidas como pelo menos três episódios em 1 ano ou dois episódios em 6 meses.

Diversos antibióticos são a base da terapia para melhorar a incidência das infecções do trato urinário, mas as infecções recorrentes continuam a afligir muitas mulheres.

A estratégia atual para o manejo é baseada em uma combinação de medidas de estilo de vida e terapia antibacteriana [2, 3, 4]. Em mulheres com infecções recorrentes, a profilaxia contínua com regimes antibacterianos de baixa dose é a mais recomendada [6].

O uso rotineiro de antibióticos diários, mesmo em baixas doses, vem sendo questionado devido ao surgimento generalizado de cepas resistentes. Em particular, a resistência antimicrobiana ao uropatogênico E. coli é uma preocupação, tornando necessária a disponibilidade de tratamentos alternativos. Além disso, as drogas antibacterianas têm sido associadas à disbiose intestinal e vaginal, que também é uma causa potencial de infecções recorrentes [7].

Patógenos associados as infecções do trato urinário e novas abordagens utilizadas para sua prevenção

Os patógenos mais comuns associados às infecções do trato urinário pertencem à família Enterobacteriaceae (Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae, Proteus mirabilis, Citrobacter spp. e Enterobacter spp.) [1].

Uma nova abordagem utilizada para tratamento e prevenção das infecções do trato urinário é o uso de produtos naturais, como probióticos e suplementos da cranberry, que atuam no microbioma para reduzir a colonização por uropatógenos.

A base para essa estratégia é a forte ligação entre saúde vaginal, infecções do trato urinário e a descoberta de que as bactérias patogênicas que colonizam o trato urinário feminino estão associadas à colonização ascendente da flora fecal.

Em duas meta-análises, ambas publicadas em 2017, os produtos derivados da cranberry mostraram eficácia na redução do risco de recorrência de infecções do trato urinário em mais de 26% [8, 9].

Em outro estudo, publicado na revista BMC Infect Dis., os autores avaliaram os efeitos da proantocianidina (PAC), um polifenol derivado da cranberry, em prevenir a adesão bacteriana às células uroepiteliais que revestem a parede da bexiga [10].

Amostras de urina coletadas de 32 voluntários do Japão, Hungria, Espanha e França foram utilizadas neste estudo randomizado, duplo-cego controlado por placebo. Um modelo in vivo de Caenorhabditis elegans também foi usado para avaliar a influência do regime de cranberry no grau de patogenicidade da cepa de E. coli.

Os resultados indicaram uma atividade antiadesão bacteriana significativa em amostras de urina coletadas de voluntários que consumiram cranberry em pó em comparação com placebo [10].

Foi demonstrado que pelo menos 36 mg de equivalentes de PAC de cranberry/dia, divididos em duas doses (manhã e noite), são necessários para conferir a bioatividade antiadesão [10].

O modelo in vivo de Caenorhabditis elegans também mostrou que a cranberry agiu contra a virulência bacteriana: a cepa de E. coli apresentou uma capacidade reduzida de matar vermes após um crescimento em amostras de urina de pacientes que tomaram cápsulas de cranberry. Este efeito foi importante com o regime de 72 mg de PAC [10].

Os autores concluíram que a administração de pó de cranberry padronizado por PAC em dosagens contendo 72 mg por dia pode oferecer alguma proteção contra adesão bacteriana e virulência no trato urinário.

Ações da cranberry na infecção do trato urinário

As frutas das espécies de Vaccinium, como cranberry e mirtilos, contêm taninos condensados chamados proantocianidinas, compostos fenólicos estáveis amplamente distribuídos na natureza, e alguns deles com propriedades antivirais, antibacterianas, antiadesão ou antioxidantes [11, 12].

Ao inibir a síntese da parede celular bacteriana e a expressão celular de moléculas de adesão, as PAC inibem a adesão bacteriana às superfícies celulares.

A E. coli é a bactéria uropatogênica mais comum, e suas fímbrias P são consideradas o fator de virulência mais importante para causar infecção do trato urinário. O bloqueio da adesão fimbrial pela cranberry impede que a E coli e outras bactérias gram negativas colonizem as células uroepiteliais.

Desta maneira, a cranberry pode ajudar a prevenir a infecção do trato urinário, seja pela seleção de cepas bacterianas menos adesivas nas fezes ou pela prevenção direta da E coli de aderir às células uroepiteliais, ou por ambos os mecanismos.

Por ser um produto alimentar natural e prontamente disponível, este parece ser um meio útil para a prevenção autoadministrada da infecção do trato urinário. Em suma, a cranberry oferece uma ferramenta alternativa para a prevenção de infecção do trato urinário que pode resultar na diminuição do uso de antimicrobianos.

O Centro Paulista é referência na manipulação de fórmulas, incluindo o cranberry e seus derivados. Atuamos em praticamente todos os segmentos da Medicina e da Nutrição, podendo colaborar dentro de nossas especialidades e ofertando aos pacientes excelentes produtos e serviços.

Referências:

[1] Asadi Karam MR, Habibi M, Bouzari S. Urinary tract infection: pathogenicity, antibiotic resistance and development of effective vaccines against uropathogenic Escherichia coli. Mol Immunol. 2019; 108:56–67. DOI: 10.1016/j.molimm.2019.02.007

[2] Aydin A, Ahmed K, Zaman I, et al. Recurrent urinary tract infections in women. Int Urogynecol J. 2015; 26:795–804. DOI: 10.1007/s00192-014-2569-5

 [3] Falagas ME, Betsi GI, Tokas T, et al. Probiotics for prevention of recurrent urinary tract infections in women. Drugs. 2006; 66:1253–1261. DOI: 10.2165/00003495-200666090-00007

 [4] Flores-Mireles AL, Walker JN, Caparon M, et al. Urinary tract infections: epidemiology, mechanisms of infection and treatment options. Nat Rev Microbiol. 2015; 13:269–284. DOI: 10.1038/nrmicro3432

 [5] Albert X, Huertas I, Pereiró II, et al. Antibiotics for preventing recurrent urinary tract infection in non-pregnant women. Cochrane Database Syst Rev. 2004;(3):CD001209. DOI: 10.1002/14651858.CD001209.pub2

 [6] Kahlmeter G. An international survey of the antimicrobial susceptibility of pathogens from uncomplicated urinary tract infections: the ECO· SENS Project. J Antimicrob Chemother. 2003; 51:69–76. DOI: 10.1093/jac/dkg028

 [7] Vemuri RC, Gundamaraju R, Shinde T, et al. Therapeutic interventions for gut dysbiosis and related disorders in the elderly: antibiotics, probiotics or faecal microbiota transplantation? Benef Microbes. 2017; 8:179–192. DOI: 10.3920/BM2016.0115

 [8] Fu Z, Liska D, Talan D, et al. Cranberry reduces the risk of urinary tract infection recurrence in otherwise healthy women: a systematic review and meta-analysis. J Nutr. 2017; 147:2282–2288. DOI: 10.3945/jn.117.254961

 [9] Â L, Domingues F, Pereira L. Can cranberries contribute to reduce the incidence of urinary tract infections? A systematic review with meta-analysis and trial sequential analysis of clinical trials. J Urol. 2017; 198:614–621. DOI: 10.1016/j.juro.2017.03.078

 [10] Howell AB, Botto H, Combescure C, Blanc-Potard AB, Gausa L, Matsumoto T, Tenke P, Sotto A, Lavigne JP. Dosage effect on uropathogenic Escherichia coli anti-adhesion activity in urine following consumption of cranberry powder standardized for proanthocyanidin content: a multicentric randomized double blind study. BMC Infect Dis. 2010 Apr 14; 10:94. doi: 10.1186/1471-2334-10-94

 [11] Turner A, Chen SN, Joike MK, Pendland SL, Pauli GF, Famsworth NR. Inhibition of uropathogenic Escherichia coli by cranberry juice: A new antiadherence assay. J Agric Food Chem. 2005; 53:8940–8947. doi: 10.1021/jf052035u

 [12] Howell AB, Foxman B. Cranberry juice and adhesion of antibiotic-resistant uropathogens. JAMA. 2002; 287:3082–3083. doi: 10.1001/jama.287.23.3082