Prática Ortomolecular: o uso terapêutico dos suplementos alimentares para a longevidade saudável
Chama a atenção que existem atualmente muitas pessoas superalimentadas ou desnutridas. Essa é a realidade em países com economias desenvolvidas e também nos emergentes. A alimentação com forte carga energética e pobre em nutrientes é uma condição para isso.
Um organismo malnutrido reage com dificuldade às agressões impostas pelo estilo de vida atual e torna-se alvo da perda de saúde física e do bem-estar geral.
Apesar das controvérsias sobre suplementos alimentares da terapia ortomolecular, evidências sugerem que eles desempenham um papel significativo na prevenção e tratamento de doenças, bem como na proteção contra o envelhecimento acelerado [1].
Os conhecimentos básicos sobre suplementos são valiosos em doses adequadas, e fazem parte de um programa de saúde abrangente, incluindo dieta, exercícios e gerenciamento de estresse.
Prática ortomolecular nas situações de deficiências diagnosticadas e evidências de benefícios
Os avanços na nutrição molecular geraram o conceito de terapia nutricional ortomolecular.
A prática ortomolecular é a restauração e manutenção da saúde através da administração de quantidades adequadas de substâncias que estão normalmente presentes no corpo, mas que foram diagnosticadas deficientes.
A prática ortomolecular foi estabelecida em 1968 por Linus Pauling, vencedor do prêmio Nobel, e Abram Hoffer, químicos moleculares do século XX.
A terapia ortomolecular não tem o propósito de tratar todas as doenças nem substitui as terapias padrões, mas provavelmente é complementar a muitas destas.
Esta prática preconiza que anormalidades são causadas por desequilíbrios de vitaminas, micronutrientes e radicais livres, e propõe oferecer ao paciente e às células o que elas necessitam do ponto de vista bioquímico, provendo ao organismo substratos nutracêuticos favoráveis à manutenção e reestabelecimento da saúde.
Evidências mostram benefícios da terapia ortomolecular no tratamento da diabetes, doenças cardiovasculares, hipertensão, insuficiência cardíaca congestiva, função imunológica, doenças relacionadas com a idade e deterioração da função cerebral, entre outros problemas de saúde devido à idade [1].
A partir de uma avaliação adequada do estilo de vida do paciente, de seu padrão alimentar e da quantificação laboratorial de parâmetros específicos, são prescritos nutracêuticos específicos, quando identificada determinada carência, para uso domiciliar e/ou na clínica.
Mecanismos pelos quais a nutrição pode afetar a saúde mental
Como o cérebro humano opera com uma taxa metabólica muito alta, utilizando uma proporção substancial da ingestão total de nutrientes e energia produzida, ele é dependente de aminoácidos, gorduras, vitaminas e minerais, tanto para sua estrutura como função (incluindo comunicação intracelular e intercelular).
Embora a ingestão calórica tenha aumentado nas sociedades modernas, muitos indivíduos não consomem as ingestões recomendadas de vários nutrientes essenciais ao cérebro, incluindo vitaminas do complexo B, zinco e magnésio.
Dados convincentes sugerem que selecionar suplementos (isoladamente ou em combinação), podem fornecer muitas atividades moduladoras neuroquímicas benéficas no manejo de transtornos mentais [2].
Nutracêuticos podem contribuir positivamente para saúde e longevidade
Uma vez que tanto o aumento dos níveis percebidos de estresse na vida moderna quanto o crescente envelhecimento da população representam grandes desafios sociais generalizados, o potencial da nutrição para exercer efeitos benéficos na saúde mental tem sido muito investigado.
O processo de envelhecimento é tipicamente acelerado como resultado da exposição aos radicais livres, inflamação frequente ou crônica e exposições tóxicas (como aos metais pesados industriais e hidrocarbonetos agrícolas).
Um papel promissor das intervenções nutricionais visa combater o declínio cognitivo, especialmente no envelhecimento e sob condições de estresse e ansiedade elevados. Reverter este processo ou retardá-lo é um dos objetivos da terapia ortomolecular.
Formulação nutricional como uma prática promissora para gerenciar o declínio cognitivo
As consequências negativas de uma dieta de baixa qualidade podem prejudicar a saúde mental e a função cognitiva, o que será provavelmente exacerbado com a idade.
As intervenções dietéticas têm sido estudadas como meio de preservar o desempenho cognitivo em indivíduos de alto risco.
Num estudo publicado na revista Journal of Alzheimer’s Disease, os autores investigaram o efeito de uma formulação nutracêutica contendo folato, alfa-tocoferol, vitamina B12, S-adenosilmetionina, N-acetilcisteína e acetil-L-carnitina no funcionamento cognitivo de 34 pessoas com comprometimento cognitivo leve [3].
Os participantes foram randomizados para receber a formulação na forma de um comprimido ou placebo indistinguível.
A função cognitiva foi avaliada com Escala de Avaliação de Demência (DRS) e os resultados mostraram que os participantes que receberam a formulação nutracêutica tiveram um aumento significativo em seus resultados de DRS em três meses e manteve este nível de melhoria durante todo o estudo (6 meses).
Após o período da intervenção, o grupo placebo mudou para a formulação nutracêutica, e neste período de 12 meses, tal grupo apresentou melhora significativa.
Já que muitos indivíduos com comprometimento cognitivo leve continuarão a declinar em desempenho e exibir dificuldades nos comportamentos associados, eventualmente justificando um diagnóstico de demência, os achados apresentados no trabalho apoiam a inclusão da formulação nutracêutica como parte de uma abordagem terapêutica para retardar ou minimizar o declínio cognitivo para indivíduos com comprometimento cognitivo leve [3].
Contudo, mais ensaios clínicos precisam ser executados em participantes de meia-idade e em populações com ingestão de nutrientes abaixo do ideal, as quais foram associadas ao risco de declínio cognitivo.
Nestes novos ensaios, a padronização das doses, resultados cognitivos e abordagem metodológica fornecerão mais resultados conclusivos capazes de informar a saúde pública sobre o consumo dos nutracêuticos pela prática ortomolecular.
Referências:
[1] Janson M. Orthomolecular medicine: the therapeutic use of dietary supplements for anti-aging. Clin Interv Aging. 2006;1(3):261-5. doi: 10.2147/ciia.2006.1.3.261. PMID: 18046879; PMCID: PMC2695174.
[2] Adan RAH, van der Beek EM, Buitelaar JK, Cryan JF, Hebebrand J, Higgs S, Schellekens H, Dickson SL. Nutritional psychiatry: Towards improving mental health by what you eat. Eur Neuropsychopharmacol. 2019 Dec;29(12):1321-1332. doi: 10.1016/j.euroneuro.2019.10.011. Epub 2019 Nov 14. PMID: 31735529.
[3] Gkotzamanis V, Panagiotakos D. Dietary interventions and cognition: A systematic review of clinical trials. Psychiatriki. 2020 Jul-Sep;31(3):248-256. doi: 10.22365/jpsych.2020.313.248. PMID: 33099465.